domingo, 7 de outubro de 2012

EVANGELHOS APÓCRIFOS: TEXTOS QUE A BÍBLIA OCULTOU

Postado por: Marcio Droma  
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15:29



Entre o Velho e o Novo Testamentos há um período denominado intertestamentário, no qual se produziram vários textos sobre a história religiosa. Mas a Igreja, sem dar explicações racionais, selecionou apenas quatro deles como evangelhos oficiais. Os demais foram usados por inúmeras seitas, que deles extraíram informações históricas polêmicas.
O artigo a seguir faz uma panorâmica dos misteriosos evangelhos apócrifos.
A vida de Jesus sempre foi envolta em mistério. É esse o ponto motriz da série Operação Cavalo de Tróia, do escritor espanhol J. J. Benítez, lançada no Brasil pela Editora Mercuryo, Esses livros tentam esclarecer passagens obscuras como a natividade de Jesus ou seus últimos momentos no Monte das Oliveiras. O que as pessoas não sabem é que esses mesmos fatos deram origem a outros livros do autor, como O Testamento de São João e Os Astronautas de Yaveh. Este último explora fatos também ligados a Maria e foi escrito antes do primeiro volume co "Cavalo". Todas essas obras têm o mesmo ponto de partida: os evangelhos apócrifos. Mas o que são esses textos misteriosos?
"Apócrifo" (apokryphu no latim, apokryphos no grego) é a palavra denominada para definir uma obra cuja autenticidade não se comprovou. Com o passar do tempo ela ganhou um sentido pejorativo. englobando todos os evangelhos suspeitos de serem heréticos pelos inúmeros concílios da Igreja católica. Os apócrifos abrangem as duas partes da Bíblia. o Velho e o Novo Testamento. e alguns foram dela retirados e posteriormente reintegrados ao Livro, como o Macabeus e as Odes de Salomão.
Não se sabe, porém, de onde esses evangelhos teriam vindo. No começo da nossa era havia uma grande tradição oral que, muito vagarosamente, começou a ser compilada. Já não se pode afirmar, com certeza, quem terá escrito. Sabe-se, contudo, que partiram do mesmo povo, os hebreus, pois eram primeiramente redigidos nessa língua, sendo posteriormente traduzidos para o latim e o grego, além de outras línguas como o árabe, o siríaco, o capta ou o armênio.
Nos dois primeiros séculos de nossa era, os doutores da Igreja aceitavam os apócrifos e não os punham em dúvida. Somente mais tarde, em 325, os apócrifos foram separados dos oficiais.Em uma obra intitulada Libelus Synddicus, um anônimo chegou a explicar como foi feita esta separação: quando os bispos estavam em oração, os evangelhos inspirados pelo Espírito Santo foram se colocar num altar sozinhos. Outra versão diz que, ao serem colocados todos num altar, apenas os não inspirados caíram.
Independente de serem reais ou não, os textos apócrifos precisam ser meticulosamente estudados, pois muitos foram os que os manipularam para fazer preponderar seu ponto de vista sobre a religião. Por exemplo, no final do Evangelho de Bartolomeu, Jesus fala em "Igreja católica", termo nunca usado nos canônicos. Mas nem tudo é truque: os apócrifos são de uma beleza indiscutível. Tanto que a mesma Editora Mercuryo lançou o livro Apócrifos - Os Proscritos da Bíblia, com uma reunião de 12 textos impregnados de simbolismo e gnosticismo. Conheça um pouco desses misteriosos textos.
Livro dos Segredos de Enoch
Recentemente encontrado na Rússia e na Sérvia, muito pouco se sabe de sua origem. Cogita-se que data do século 1 d.C., no período intertestamentário. Seja como for é um documento valioso para o entendimento dos primeiros tempos do cristianismo e que ajuda a entender muitas passagens obscuras dos evangelhos canônicos.
Trata-se de uma visão apocalíptica que mais se parece com o Paraíso da Divina Comédia ,de Dante Alighieri. Enoch experimenta uma viagem pelos dez céus até encontrar-se face a face com Deus. Fala dos anjos rebeldes, do inferno, do sofrimento eterno, da criação e da criação do visível pelo invisível. Dois anjos escoltam Enoch ao céu, onde permanece durante 60 dias. Volta à Terra, entrega os 366 livros que escreveu durante sua estada a seus filhos e novamente ascende.
Recentes hipóteses levantadas falam que este apócrifo teria sido escrito por um judeu helenizado de Alexandria (Egito). Vale lembrar que Enoch e Elias, outro profeta, serão os dois únicos mortais a viverem no céu com seu corpo até a vinda do Anticristo, quando descerão e o combaterão no final dos tempos, sendo por ele mortos.
Protoevangelho de Tiago
O mais famoso dos apócrifos e o usado por J. J. Benítez como inspiração em suas obras. Seu texto é muito remoto e considerado, por muitos estudiosos, como anterior mesmo aos canônicos. Surgiu no fim do século 16 com o nome de "Livro de Tiago", Sua autoria e época são inexatos. O humanista francês Guillaume Postel considerou-o um prólogo ao Evangelho Segundo São Mateus.
o texto trata da infância de Jesus, do nascimento de sua mãe Maria, da educação dela em um templo até a puberdade, como José (viúvo e pai de seis filhos) foi escolhido como seu marido, o nascimento de Jesus numa caverna e de um misterioso astro que guiou os magos até ela. E cita. ainda, o testemunho de uma parteira que constatou a virgindade de Maria ao dar à luz.
Evangelho de Bartolomeu
O apócrifo que mais repercutiu entre coptas. latinos. helênicos e eslavos. Jerônimo (150) faz referência a ele, bem como Epifánio (que morreu em 403. O tema é. talvez, o mais original já é insólito deles: a conversa de Bartolomeu e Jesus com Belial, um anjo maligno que não reconhece ninguém a não ser ele próprio.
A narração começa logo após a ressurreição, quando Bartolomeu, intrigado, pergunta a Cristo onde ele fora  quando as trevas cobriram a Terra,  pois este o vira desaparecer da cruz.
Entre as citações do texto estão os  profetas Enoch e Elias e a "entrevista" a que os apóstolos submetem Maria para que ela lhes revele detalhes da concepção. Nesse texto, bem como em outro apócrifo chamado "Descida de Cristo ao Inferno" (encontrado em duas versões, latina e grega), há uma alusão a pessoas que costumam adulterar os textos religiosos para defender pontos de vista pessoais ou relativos a seitas.
Seja como for, ao final do texto o leitor fica no mínimo intrigado, pois alguns dos mistérios revelados dão asas à imaginação.
Livro da Ascensão de Isaías
Entre os diversos textos do Velho Testamento recusados pela Igreja encontra-se um que revela um caráter extremamente esotérico e revelações que não se encaixam com as afirmações do resto do Livro dos Livros. Este, atribuído a Isaías, profeta e genro de Joás, rei de Judá, é um deles. A época em que foi escrito é estimada entre 88 e 100 d.C. Isaías foi um dos profetas que previram a vinda de Cristo, que haveria de nascer de uma virgem, os principais acontecimentos de sua vida, morte e ressurreição. Isaías morreu aos 110 anos, serrado ao meio por ordem do rei Manassés, a quem criticara por sua vida libertina.
No livro, o profeta conta suas visões: quando o pai de Manassés, Ezequias, ainda está vivo, revela-lhe que seu filho acabaria por se tomar discípulo de Belial e abandonaria a fé de seus antepassados; ao lado do leito do moribundo rei revela-lhe a visão que teve do céu, dos anjos e das potestades. Cada céu revelase mais esplendoroso que o anterior. Um detalhe: até o quinto céu há "esquerda" e "direita"; depois não há mais.
Ao falar também das vestimentas de luz dos anjos, este apócrifo esbarra em definições usadas tanto nos canônicos de Mateus, Coríntios e Apocalipse quanto no apócrifo Livro dos Segredos de Enoch.
Evangelho Pseudo-Tomé e Evangelho Segundo Tomé do Dídimo
Trata-se de dois textos completamente diferentes entre si e que foram muito confundidos. O primeiro é um relato da vida de Jesus que abrange dos cinco aos 12 anos, datado do século 1. Sua narrativa retoma o ponto deixado pelo Protoevangelho de Tiago, ao qual acabaria por ter uma parte agregada que formou um texto longo, com duas ampliações (introduzidas na Armênia no século 4 e no mundo árabe mais ou menos na mesma época).
Seu mérito é a tentativa de preencher uma lacuna deixada pelos evangelhos canônicos, que é a infância de Jesus.
Aqui conhecemos os milagres de Jesus Menino, alguns chegando até mesmo a serem risíveis, como as figuras de pássaros feitas de barro que Jesus constrói  e que criam vida. Jesus Menino desperta admiração e assombro entre os judeus, principalmente entre seus pais carnais.
O segundo texto, cujo original está l no Museu Capta do Cairo, no Egito, foi descoberto em 1945 na região de Nag Hammadi. Junto com este, estava o Evangelho Segundo Felipe, outro apócrifo famoso, cujo texto traz a semente usada por Nikos Kazantzakis em seu livro A Última Tentação de Cristo (transformado por Martin Scorsese no polêmico filme homônimo), ao revelar Cristo como tomado de paixão por Madalena.
Evangelho segundo Tomé do Dídimo é uma coletânea de frases e parábolas. Foi muito usado como citação pelos antigos doutores da Igreja. É nitidamente gnóstico, com um texto difícil de ser entendido, muitas vezes devido à tradução do grego para o copta. São frases como: "Onde há três deuses, há deuses; onde há dois ou um. estou com ele", Ou ainda: "Todo aquele que conhece o Todo mas não conhece a si próprio, a este falta tudo", o valor histórico dos evangelhos apócrifos é indiscutível. Ao final de sua leitura fica uma sensação de perturbação. como se tivéssemos sido enganados sobre Cristo o tempo todo. Fica claro porque os apócrifos foram excluídos da Bíblia. Não bem por serem heréticos. como afirmam os doutores e exegetas, mas por fazerem as pessoas pensarem mais sobre Deus e suas obras.

Fonte: Revista Planeta nº 226 – Julho de 1991

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